Um olhar diferente para a informação

Arquivo para janeiro, 2008

Sorte ou azar?

Belém estava, digamos, pegando fogo no domingo passado (27/01/08) tudo por conta de duas situações. A primeira, que já se arrasta há algum tempo é a dos vendedores ambulantes na Avenida Presidente Vargas, o que tem provocado a interdição da pista há algum tempo e vem causando muita dor de cabeça em quem precisa passar por ela.

Mas a situação que motivou-me a escrever esta matéria (a primeira, no Blog do França, depois de formado em jornalismo), foi, sem dúvidas, a notícia do assalto com refém que aconteceu na capital paraense. A história foi divulgada em todo o Brasil e em vários países. Quem assistiu ao noticiário (qualquer que seja) viu a cena: o bandido segurando uma arma fazendo um homem de refém e a polícia cercando a situação.

O meliante dispara um tiro contra a polícia e um dos policiais que estava no caso revida o disparo e é exatamente neste momento que vi uma das cenas mais bizarras da minha efêmera carreira de jornalista: o policial, que não recordo o nome, ao reagir o tiro do meliante, pareceu estar tão nervoso quanto o assaltante e pior, parece ter esquecido que bem entre ele e o bandido estava um refém. Olhando a imagem com cuidado e uma preocupante atenção, dá para perceber que o policial dá uns passos desencontrados e ao efetuar os três disparos colocou em risco sua própria vida e a vida do cidadão. Na dança da morte a fivela do sinto salvou a vida do policial.

Imagens: Tv Bandeirantes/ Brasil Urgente 28/01/08

Ainda bem que ninguém morreu, porque se isso tivesse acontecido, problemas mais sérios aumentariam a lista negra da segurança pública no Estado.

Não quero ser prepotente em minha análise, mas conversei com várias pessoas durante o dia e percebi que elas tiveram a mesma impressão que a minha. A polícia, que toma conta de uma operação delicada como é um assalto com refém, precisa estar com os nervos sobre total controle para poder negociar, não foi isso que aconteceu. Ao primeiro disparo do assaltante o policial foi logo respondendo à bala e a menos de dois metros de distância. O policial não acertou nada, ou melhor, apenas chão e parede. Teria sido de propósito? Mas quem em sã consciência está a menos de dois metros de distância de um criminoso armado, atirando e não tenta acertá-lo.

– Mas havia um refém. (Pode dizer alguém).

Então o policial não poderia estar ali. As imagens mostram muito mais do que uma ação desastrosa, fazem levantar a pergunta: será que a nossa polícia está preparada para proteger? Por que revidar tiros se existe refém utilizado com escudo humano?

Por fim, gostaria de lembrar uma coisa que não consegui identificar nas matérias que assisti nas emissoras de tv. A fivela do sinto que salvou o guarda se tornou mais importante do que ouvir ou saber se o refém estava bem depois que ficou no meio de um fogo cruzado tentando se esquivar da mira de uma arma e de pelo menos 3 tiros.

Imagens: Tv Bandeirantes/ Brasil Urgente 28/01/08

Isso sem contar que o assaltante teve tempo, até, de trocar de refém. Sorte ou azar?

Você esperaria?

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Olhar para o monitor e saber que está chegando a hora de ir embora

Para quem já conhece o Blog do França, sabe que as matérias publicadas neste humilde espaço são referências daquilo que me chama atenção no dia a dia, trabalhando ou não. A matéria de hoje é, sem dúvida, um daqueles dilemas que todo mundo ou quase todo mundo deve passar na vida um dia, acredito que a minha hora ainda estar por vir.

Por motivos óbvios, a história que vou contar nas próximas linhas não terá os nomes de seus personagens reais, para preservá-los. Vamos lá então. A história se resume a três personagens: Felipe, Luana (o casal) e dona Florinda (a sogra de Felipe).

Luana e Felipe já são namorados há pouco mais de um ano, eles realmente se amam. Mas nem tudo é perfeito, a mãe de Luana, Dona Florinda, não gosta de Felipe porque ele reúne os 2 p’s: preto e pobre.

Influenciado pela adorável namorada e sogra ele começa a freqüentar uma nova religião. Felipe começa a se envolver com os trabalhos missionários desta nova instituição religiosa e começa a traçar planos pessoais lá dentro, entre eles o de sair de Belém, o que acabou se concretizando. No final do mês de novembro, Felipe recebeu o conhecido como “chamado” para uma missão de duração de dois anos em uma capital na região centro-oeste do Brasil.

Tudo ia muito bem até a sogra começar a estragar tudo. Dias antes da viagem ela chamou Felipe e Luana para uma conversa franca. Segundo relatos do próprio Felipe, a história foi mais ou menos assim:
– Felipe, Luana, quero falar com vocês!
– Diga mãe.
– Fale minha sogra.

Dona Florinda respira fundo e começa a disparar.
– Felipe, eu quero que você termine agora seu namoro com a minha filha.
Silêncio durante alguns segundos acompanhado de rostos de perplexidade. Logo depois ela continuou…
– Você vai ficar dois anos fora e eu não quero que ela fique lhe esperando, ela é muito jovem ainda, precisa conhecer outros rapazes.
Dá pra imaginar a cena né?

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Este foi o exato fim do namoro, mesmo contra a vontade do casal. Mas como desgraça vem acompanhada, no tempo em que Felipe estiver em missão no outro Estado, não poderá fazer nenhum tipo de ligação telefônica para a família ou qualquer pessoa que seja. Só poderá falar com mãe no dia das mães e no natal, no resto só poderá escrever cartas e mandar email. Nada de orkut ou msn (muita gente morreria por conta disso).

Eu tive a oportunidade de presenciar a última cena do casal no aeroporto, e claro, a sogra, cara de pau, estava lá fotografando tudo. Não houve beijo, o que teve foi apenas um cafuné e uma troca de olhares.

Ao tentar consolá-la, falei ao pé do ouvido, durante um abraço:
– Se você achar que vale a pena esperar, espere. Se você achar que deve, espere.
Ela não disse nada, o que senti foi sua cabeça balançando em meu ombro em sinal positivo.

Voltando pra casa pensei em algo que martela até hoje e é mais ou menos assim: Na nossa vida são poucas as pessoas que realmente valem a pena, pouquíssimas e por elas ou por ela, vale a pena esperar, que por toda a vida….. Bem, é o que penso.

Solidariedade do copo

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Essas festas de final de ano me fizeram perceber situações interessantes, mesmo não sendo novas despertam curiosidade.

Beber é um negócio meio doido. Eu mesmo tiver minha primeira e única experiência alcoólica no dia 20 de janeiro do ano passado (2007). Até hoje não consegui definir exatamente qual é a sensação, mas prefiro não testar mais, eu bebia cerveja como se fosse água…. A história de que direção e bebida não combinam é verdade.

A primeira coisa que parece é que todo mundo que está bebendo é meio rico, isso porque eu só via trazerem mais cervejas e mais, cada vez mais, até eu fui responsáveis em pegar algumas para abastecer a mesa. É de se ficar pensando: se cada cerveja custa em média R$ 2,00, em um grade vem 24 garrafas, logo, uma grade custa R$ 48,00. Considerando, ainda, que a moçada bebe demais, são compradas umas 10 ou 15 grades (para uma festa), e que custa uma bagatela de R$ 720,00, isso tudo para ir parar no banheiro de 20 em 20 minutos e outra, lá em casa esse dinheiro todo dá um belo supermercado.

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Mas o que chamou a atenção é a solidariedade que existe entre os integrantes de uma rodada de birita. O papo vai rolando, descontraindo e os olhares, de todos na mesa, sempre se voltam para o copo, uns dos outros, olhares piedosos e atentos para saber a medida da bebida no copo alheio. O mais interessante e perceber que assim que o copo do parceiro de mesa está vazio, sem mudar o timbre da voz e mesmo sem olhar para o que está fazendo, mostrando uma certa habilidade para tal fato, enche o copo do companheiro. O zelo é muito grande com o copo do outro.

A situação é inusitada para quem fica prestando atenção, é o que batizei de solidariedade silenciosa. O assunto cerveja só toma a atenção da conversa quando ela acaba no congelador e alguém vai precisar comprar mais na mercearia da rua ou no supermercado.
Pelo menos nesse momento muita gente é solidária.