Norte não é com M
Viajar é, sem dúvida, um dos maiores baratos da vida. Mas a mesma viagem pode trazer revelações frustrantes daquilo que a gente aprende a vida inteira na escola e custa acreditar que isso realmente aconteça. Vocês já entenderão porque.
Neste final de semana estive em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, a trabalho. Nos poucos momentos de folga pude conhecer alguns pontos da cidade. Mas o que motivou essa nova matéria do Blog do França não é o que vi (a cidade é bonita), mas o que ouvi.
“Vocês andam de canoa por lá?”. “Existe alguma coisa em Belém?”. Essas foram algumas das pérolas que tive que ouvir por lá.
No exato momento em que ouvi esse tipo de comentário, lembrei das aulas de geografia e os inflamados comentários dos professores afirmando que nós (paraenses, do norte), precisamos defender nossa terra e nossa cultura.
Com espírito de visitante, expliquei que nós não andávamos em canoas na cidade, que tínhamos muito mais que a floresta amazônica e minérios.
Esse tipo de situação mostra, cada vez mais, qual é a visão que o povo do centro oeste pra baixo tem do povo do norte e nordeste do Brasil. Boa parte pensa que as regiões fazem parte de uma só.
E o que mais impressiona é que eles reproduzem esse pensamento de maneira mais natural possível, não por maldade (não percebi isso), mas exatamente pela falta de conhecimento, de saber que Belém e a Amazônia têm mais a oferecer.
Existem duas parcelas de culpa. Uma é da mídia que só reproduz aquilo que não presta das regiões norte e nordeste, a outra é nossa mesmo, por permitirmos que isso aconteça e também por deixarmos que a nossa história boa se apague e se perca dentro de tantos fatos ruins.
“Aqui a gente toma guaraná quando não tem coca-cola…. A culpa é da mentalidade criada sobre a região, porque que tanta gente teme? Norte não é com M”. Trecho da canção, Belém-Pará-Brasil, da banda Mosaico de Ravena, escrita há mais de 15 anos, mas com a letra bem atual.
Esse texto, de maneira alguma, vai contra o povo gaúcho, por sinal, eles me receberam muito bem, mas apenas para refletir o quanto nós paraenses ou de qualquer Estado da Amazônia somos mais conhecidos, de maneira pejorativa, como o povo do norte, quando na verdade, também somos brasileiros.