Um olhar diferente para a informação

Arquivo para fevereiro, 2008

Norte não é com M

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Viajar é, sem dúvida, um dos maiores baratos da vida. Mas a mesma viagem pode trazer revelações frustrantes daquilo que a gente aprende a vida inteira na escola e custa acreditar que isso realmente aconteça. Vocês já entenderão porque.
Neste final de semana estive em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, a trabalho. Nos poucos momentos de folga pude conhecer alguns pontos da cidade. Mas o que motivou essa nova matéria do Blog do França não é o que vi (a cidade é bonita), mas o que ouvi.

“Vocês andam de canoa por lá?”. “Existe alguma coisa em Belém?”. Essas foram algumas das pérolas que tive que ouvir por lá.
No exato momento em que ouvi esse tipo de comentário, lembrei das aulas de geografia e os inflamados comentários dos professores afirmando que nós (paraenses, do norte), precisamos defender nossa terra e nossa cultura.
Com espírito de visitante, expliquei que nós não andávamos em canoas na cidade, que tínhamos muito mais que a floresta amazônica e minérios.

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Esse tipo de situação mostra, cada vez mais, qual é a visão que o povo do centro oeste pra baixo tem do povo do norte e nordeste do Brasil. Boa parte pensa que as regiões fazem parte de uma só.

E o que mais impressiona é que eles reproduzem esse pensamento de maneira mais natural possível, não por maldade (não percebi isso), mas exatamente pela falta de conhecimento, de saber que Belém e a Amazônia têm mais a oferecer.
Existem duas parcelas de culpa. Uma é da mídia que só reproduz aquilo que não presta das regiões norte e nordeste, a outra é nossa mesmo, por permitirmos que isso aconteça e também por deixarmos que a nossa história boa se apague e se perca dentro de tantos fatos ruins.

“Aqui a gente toma guaraná quando não tem coca-cola…. A culpa é da mentalidade criada sobre a região, porque que tanta gente teme? Norte não é com M”. Trecho da canção, Belém-Pará-Brasil, da banda Mosaico de Ravena, escrita há mais de 15 anos, mas com a letra bem atual.

Esse texto, de maneira alguma, vai contra o povo gaúcho, por sinal, eles me receberam muito bem, mas apenas para refletir o quanto nós paraenses ou de qualquer Estado da Amazônia somos mais conhecidos, de maneira pejorativa, como o povo do norte, quando na verdade, também somos brasileiros.

Oh festa cara!

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Quantas e quantas vezes você, que mora em Belém, reclamou da “pobreza” do carnaval da capital paraense? Lembra a cena? Você assistindo ao noticiário local e as imagens mostravam a carência nas alegorias e carros das escolas de samba, claro, se comparados aos do Rio e de São Paulo.

Eu mesmo, inúmeras vezes, já disse: “O carnaval de Belém é uma porcaria. Carnaval de verdade é o do Rio”. Pois bem, arrependo-me profundamente do que disse. Faço isso depois do que vi e li nas publicações e matérias desta terça-feira de carnaval (05/02/08).
A matéria (Tv Record) fazia uma prestação de contas do carnaval da cidade maravilhosa e fiquei diante de uma estarrecedora verdade. A folia de Momo para, e somente para, os desfiles das escolas de samba dos grupos de acesso e especial do Rio, custaram nada mais que R$ 22 milhões de reais aos cofres públicos.

Fazendo aquelas comparações de matéria de prêmio da mega-sena, com os R$ 22 milhões de reais do carnaval, daria para comprar 440 casas (ao valor de R$ 50 mil, cada), além de 1.100 unidades de carros populares. Em outras palavras: um dinheirão.
Mas o objetivo desta matéria não é para falar sobre o que poderíamos comprar com o dinheiro do carnaval do Rio de Janeiro, mas fazer uma comparação, guardada as devidas proporções, com o nosso carnaval tupiniquim.
De acordo com a assessoria de imprensa da Funbel (Fundação Cultural de Belém), o carnaval da cidade das mangueiras e seus distritos, custou ao tesouro do município algo entorno de R$ 1 milhão e 200 mil reais, ou seja, o carnaval do Rio de Janeiro é quase 19 vezes mais caro que o de Belém.

Valores altos e desnecessários? Na minha forma de ver, sim. Mas não é essa discussão que quero propor. Será que com um pouco mais de brilho nas contas bancárias das escolas de Belém o número de componentes passaria dos atuais 1.500 (em média) para mais de 4 mil, como no Rio. Com um pouco mais de investimentos, nossos carros alegóricos seriam maiores e realmente bonitos?
Tudo bem, o Rio é bem maior que Belém, recebe muito mais turistas e por isso, demanda de maior investimento, mas é muito dinheiro.

A grande verdade é que R$ 20 milhões e 800 mil reais fazem a diferença em qualquer festa, ou melhor, fazem diferença em qualquer lugar que sejam investidos.

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Clique na imagem para vê-la ampliada.

Bom retorno do carnaval a todos.